16 de outubro de 2008

Esse vazio



Os dias iam passando —

devagar.

Eu, divagando sem pensar,

em busca de um olhar

somente seu
que pudesse completar
esse vazio que

devagar,

me mata por dentro.

4 de outubro de 2008

Para esse, paraíso


De alguma forma e inexplicavelmente, eu não fazia idéia sobre o lugar onde estava. O ambiente, uma espécie de salão para festas, era decorado de azul e branco, as paredes também brancas, além de um grande móbile de pomba preso ao lustre que centralizava o salão. O clima parecia apaziguador. Todos que conseguia ver ainda com meus olhos entreabertos, sorriam e gesticulavam de forma tenra e sagaz. Agora mais atento, percebi estar não de apenas observador; pelo contrário, eu fazia parte da cerimônia, talvez fosse o centro das atenções, se isso justificasse eu estar posto no meio do altar.

— Queridos presentes, — uma mulher falou, com a mais suave das vozes, muito próximo de mim — quero lhes dizer sobre este homem postado aqui à frente de vocês. É conhecido por alguém? — Ao acabar de formular a pergunta, fez-se o silêncio na assembléia. — Serão vocês e nossa eficaz democracia que decidirão hoje sobre o destino deste rapaz. Teria ele vindo ameaçar a nossa paz?

Instintivamente eu começara a perceber que o provável sentimento que aquelas pessoas tinham por mim era nada amistoso. Contudo, ainda mantinham o sorriso no rosto.

— Vamos começar a interrogar o rapaz primeiramente — disse um velho, de voz rouca e forte. — Concordam? — No mesmo instante, a resposta afirmativa vinda dos presentes foi unânime.

— E o que você tem para nos dizer? — questionou a mulher que dera início à cerimônia.

— Na verdade, não sei nem mesmo o que estou fazendo aqui.

— Ei, o solte, ele não parece perigoso!

Fiquei um tanto pensativo ao final da prosa dos estranhos. Que mundo seria aquele? Eu poderia mesmo fazer parte dele?

Apenas sei que acordei misteriosamente outra vez. Na ocasião, eu estava diante de apenas duas mulheres e um homem. Indaguei:

— Algum de vocês pode me explicar o que está acontecendo? Quem são vocês e o que querem de mim?

— Senhor, quando se dirigir a nós, seja o mais educado possível — disse uma voz feminina.

— Eu sou inimigo de vocês? — repliquei.

— Aqui não há guerra, tampouco temos inimigos.

Após digerir tudo isso, prossegui:

— Quer dizer que me jogaram em... Um mundo...?

— Perfeito, você quer dizer. Sim.

— Perfeito como? Não posso ouvir absurdo maior.

— Pois vai. E trate de não interferir no nosso modo de viver, na nossa harmonia. Apenas tenha respeito.

— Posso me levantar, dar uma volta?

— Como quiser. Você agora faz parte do nosso mundo.

Eu só podia pensar que eram um bando de loucos. De alguma tribo esquecida por meio de séculos de cartografia. Eu vivia agora num mundo perfeito, repleto de paz e harmonia. Acabara com o tempo me acostumando ao ritmo deles e ao modo como viviam. Pode parecer loucura, mas realmente não havia guerras, não havia maldade e inveja, nem ao menos, fartura. Porém, não havia quem passasse fome ou quem tentasse tirar do outro o que não tinha. Era tudo na mais legítima e estranha perfeição.

O comportamento hostil que tiveram comigo, apenas precaução. Afinal, era eu quem estava invadindo o espaço deles. É estranho imaginar como era verdade, uma verdade feita a partir da vontade por um mundo melhor. Ao invés de individualismo, pensavam como um todo. Por mais lunáticos que pudessem parecer, viviam — não apenas existiam. Aproveitavam tanto do mundo como qualquer um.

Pena que nada disso seja real. Além de tentar pertencer a um mundo que não era meu e que não saberia lidar, escolhi um inexistente.

Imaginação. Sublime imaginação e desejo por um mundo melhor. Um mundo que viva.