21 de fevereiro de 2008

O brasileiro que vestia apenas amarelo

Deixei tudo para trás. A família, os amigos, a casa, a cidade, a nação. Fui me aventurar por outras bandas, e fui sozinho. Fui só como o egoísta. Fui buscar novas emoções, novos rostos; paixões. Fui ver o sol poente por outro ângulo.

Primeira Aventura: País do preto-vermelho-amarelo.


O Brasileiro que vestia apenas amarelo

"Não acredito"
"Não acredita em quê?"
"Você não pode ser brasileiro, não, não pode..."
"Pois sou"
"Só pode estar brincando. No Brasil só nascem mulatos e índios"
"Quem te disse isso?"
"Ah, não importa. É melhor ir assumindo logo sua nacionalidade verdadeira"
Saquei minha carteira de identidade. Apontei a nacionalidade com o indicador e traduzi para um alemão não muito robusto: "brasilianisch".
Não havia dúvidas, eu era brasileiro - até o último fio de cabelo. Alemão algum sairia de casa trajando o uniforme canarinho. Todos me olhavam e olhavam.
Adentrei o castelo. "Magnifiqué". O vasto espaço do Schloss Neuschwanstein me impressionava.
O palácio servira de inspiração a Walt Disney para o "Castelo da Cinderela". Eu não estava interessado em cinderelas nem em walt disneys. Me interessava saber sobre o rei louco e sua relação com Richard Wagner. Em algum lugar, antes de pôr os pés no monumento, eu havia lido uma carta-dedicatória de Luis II a ele.
Todos à minha volta estavam também maravilhados. Tinham latinos, asiáticos, europeus. Gente de todo canto. Eram andares; torres que não acabavam mais. Uma das salas que mais me intrigava reproduzia uma gruta, de maneira muito realista.
Salas e salas depois: a hora de partir estava chegando. Meu único contato com alguém havia sido na entrada, quando fui abordado pelo segurança. Arrisquei uma prosa com uma moça, que pelo que tudo indicava, sentara ao meu lado na viagem de ida.
"Poderia me informar que horas são?"
"Hm, claro. 15 para as 16h" - disse ela em um inglês de sotaque hispânico.
"Obrigado", repondi sorrindo. "Está sozinha?"
"Sim. Pareço estar, concorda?"
"É, parece sim"
"Gosta daqui?" - insisti.
"Prefiro os da Espanha, e acredite: não é patriotismo. Já esteve por lá?"
"Já tive vontade, sem dúvidas. Mas me faltou oportunidade... Ah! É uma pena que não se possa tirar fotos aqui"
"É..." - assentiu com a cabeça. "Você é brasileiro ou é apenas devoção à seleção?"
"Vocês de fora cismam em perguntar isso. Começo a achar que é algum tipo de implicância..." - soltei um sorriso não muito convincente.
"Não da minha parte, posso certificar a você"
16h encerrava-se o horário de funcionamento. Nem um minuto a mais. Então pegaríamos um ônibus de volta a Munique.
"Vamos então?" - sugeri.
"Você se sentou ao meu lado quando estávamos vindo até aqui... bem me lembro"
"Era cedo e eu dormia. Mas já que diz isso, eu acredito"
Chegamos a Munique poucas horas depois. Convidei-a para um jantar. Não passavam das 20h.
Apresentei-lhe o bom Brasil com palavras, apenas palavras. Ela comentou um pouco sobre sua vida na Espanha e sobre sua faculdade de História. Conversamos bastante.
Se mantêssemos contato pós Alemanha, creio que seria uma amizade para toda a vida.
Não me lembro de ter perguntado o seu nome... vou tentar deduzir pelo endereaço eletrônico.

1 de fevereiro de 2008

Sinfonia de liberdade

Cantar,
Canções de amor quando precisar;
Só os versos que eu quiser,
Sem refrões e repetições.
Uma estrofe nova a cada dia,
Para não fazer das palavras um cotidiano.
Dançar,
No ritmo ideal;
Sem ser preciso
Que me ensinem os passos.
Ser livre... E -
Viver errando as notas.

Compor um réquiem
Cheio de andamentos intitulados
E tempos mal-acabados.