14 de março de 2008

É que para voar, basta que se batam as asas

Clima fúnebre, este.

Os de preto se mexem sem parar, gesticulam uns com os outros.
O único de branco brinca de estátua. Veste um paletó de tweed e uma gravata vermelha. Suas pálpebras inferiores estão fundas e escuras, lhe dão um ar tenebroso. Ele vive agora seu momento de egocêntrico.
Homens, mulheres – em prantos. Poucas respostas a olhares tristonhos não são consentidas com um aceno leve de cabeça. As poucas crianças devem estar reunidas em um canto qualquer, com alguma brincadeira que lembra os anos 30, sem apetrechos eletrônicos. Perto da janela, há um bufê com chá e pães de queijo. Está cercado por alguns rapazes de vinte e poucos anos.

As horas passam. E passam mais um pouco. Nada muda.

A tampa é posta. Os espectadores têm suas mãos abaixo dos olhos semicerrados e vermelhos.
Dois senhores de meia-idade, os cabelos já falhando nas têmporas, seguram o caixote pelas alças e fazem menção de sair. Todos acompanham, exceto uma senhora de uniforme azul.
O destino vai sendo conquistado, pouco a pouco. O homem, que há pouco brincava de estátua, é posto num buraco feito na terra. Uma rosa é jogada. Não mais que uma. Uma palavra em resposta é dita por todos os presentes. Não mais que uma. “Amém".

É o momento de todos darem adeus à alma – que sem mais soluções parte para o desconhecido.