3 de março de 2010

Como se faz um vilão

E como se fosse uma semente sabendo que deve ser flor, e que deve crescer, fui dormir humano e acordei vilão. Há algo nos vilões que certamente os distancia dos outros, como a habilidade de lidar com eles à distância, tratando-os por artifícios de manobra. O vilão diferencia-se do herói basicamente por uma coisa: o vilão é egoísta. Quando altruísta, vira herói, já que suas intenções, por mais cruéis que possam parecer, tendem às intenções de alguns outros. Mesmo não intencionando, como a semente, transcender a terra e ascender sobre o solo fértil, certo dia acordei no consulado de um país que não existia e que eu jamais intencionara visitar, porque de certa forma havia um contentamento e não havia necessidade de troca. Meu primeiro dia como vilão está perdido num calendário acelerado, já que numa pirouette certeira e não consciente, eu haveria de ser vilão.

Contudo, nunca houve uma escola de vilões, como parece haver a cada esquina um colégio para heróis e bons-moços. Aprende-se sozinho, consigo mesmo, por necessidade evidente ou não.
Acordara para a vilania, provavelmente no meio do processo de aprendizado. Não é fácil ser vilão.

Dotado do egoísmo escapando pelas entranhas, soçobrando no interior, eu sentia que um passo havia sido conquistado. O egoísmo é o que há de mais sincero querendo libertar-se cotidianamente, de forma que os egoístas são inconscientemente sinceros para com eles mesmos. Houve comigo uma abrupta substituição dos valores, que até então julgara terem um mínimo intento altruísta, por uma ótica egocêntrica do mundo, como se todo reflexo fosse nenhum outro se não o meu, independendo de onde estivesse o espelho. Já nada significava meu pseudo-heroísmo como semente, o simples fato de ele ser substituído pelo que quer que fosse o negaria dali em diante como se não houvesse nunca existido nem intencionado.

Nascia, em mim, um vilão.

[...]


Thomaz Campacci

Um comentário:

Henrique Rochelle disse...

um vilão é só um herói de história errada. e tao altruísta q se perde pelos outros. nao que seja preciso machucar por fazer questão. mas é necessário para poder continuar. as forcas nao se amarram sozinhas.