3 de abril de 2008

Indigência de elefante


Estressei com o animal. Certamente, não só com ele. Caos total. Carros vinham de todas as direções e eu agradeceria se fossem apenas eles. Sons ensurdecedores de buzinas, motores, pessoas.

"Ei, saia daí!", eu disse com voz imperativa, porém não muito certo de que teria meu objetivo satisfeito. Ele sorria enquanto farejava; sua tromba se movimentava freneticamente no papel de meu co-piloto. "Ah, veja bem onde vai com essa tromba, mocinho!". Lutei com toda a minha força contra a criatura, mas estava irredutível. Como se não fosse notado, fazia de tudo para não aparecer. Coitado... não parecia ter idéia de seu tamanho.

Nas calçadas, homens sentados e de turbante falavam (gritavam) ora em sua língua materna, ora num inglês mecânico e quase incompreensível. "Com an si dã snac". A "snac" seguia o movimento da flauta, complacente. Não muito raramente, misturado a cheiros de incenso do tipo Sete Milagres, sentia-se o o fedor de xixi de rato quase em concordância com as cobras. Coincidência.

Fumaça, buzinas, motores, pessoas. Elefantes. Estava cada vez mais difícil conseguir se livrar da massa cizenta e caricata. Suas enormes orelhas, mais enormes que orelhas, faziam vento suficiente para abanar os pedestres num calor quase insano. A cada grito ela finjia não entender, a cada mão para o alto ela sorria. Orelhas, calor, fumaça, buzinas, pessoas, elefantes, tentativas sem-sucesso.

Ouviam-se gritos irritados, possíveis palavrões que construiam uma escala musical de pouco nexo junto às businas. "Motafâka". Um senhor de meia idade — cabelo preto, barba por fazer —que tragava seu narguilé se levantou. Alma caridosa. Aos poucos o monstro ia deixando o interior do meu carro. Uma última fungada. Com a mesma condescência com que levantou, o Cristo sentou-se na calçada, fechou os olhos e voltou ao cachimbo exótico. Antes de agradecê-lo, me veio de súbito que o elefante podia ser o bicho-de-estimação do homem. Imagino no Brasil: a madame saindo com seu elefantinho para passear e com um sanito de vinte litros para as envetuais porcalhadas pelo Leblon.

E aquele trânsito infernal transformava meu dia numa aventura. Muito mais infernal que aventura.

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bom o texto, ADOREI.
*____________*
Amo animais, sendo o elefante um dos mais queridos...
É forte e imponente, mas ao mesmo tempo desajeitado.
*____*

prii santos . disse...

eu particularmente, não gosto dos elefantes. sua tromba e suas orelhas... assim como não gosto das girafas, assim como eu não gosto de ninguém .
nunca vi utilidade pro elefante, eu nunca vi uma unica girafa, e os seres como nós, eu gostaria de nunca tê-los conhecido . pra evitar lembrar, se apegar e um dia talvez sentir saudade ...
lembrar do seu elefante, que eu não gosto, me faz lembrar de que quando a gente não quer lembrar, simplismente tudo faz lembrar... até trombas, até orelhas, até fumaça . então eu perco a razão e o sentido.

desculpa divagar sobre a minha confusão .

beeeeeijo tho.

Prii. disse...

thoooo, agora tem eu aqui tbbbb =p

acabei de fazer, nao vai colokar defeito no meu blog tá?
já que vc e seu irmao comem computadores...eu nao como, q fique bem claro aqui! hahahaha
e nem dê risada do meu nao conhecimento hahahaha
Bjoooo

Bruna Uliana. disse...

Índia! *o*
Eu sempre tive uma espécie de curiosidade incomum por elefantes, e nem eu sei da onde veio isso. õ.O'

Você escreve muuuito bem, Tho. x)
:*

Bruna Uliana. disse...

Posta, posta! *o*

Bruna Uliana. disse...

Posta, estrupício. : )