15 de junho de 2009

Fim

Eu quero me isolar de todo mundo, me trancar numa caixinha de música e não ver mais ninguém. Não ver mais os rostos sorrindo, os semblantes carismáticos, os convites à alegria fingida. Não quero mais ver ninguém, não quero mais espelhos. Não quero mais ter que olhar para mim, para dentro de mim e ver o que sou. Eu prefiro não acreditar que sou o que sou, e como sou; que sou como eles todos — eu prefiro não saber, ou fingir não saber, e então estarei sendo como eles. Qual é a fuga mais viável dessa natureza pérfida que ainda enaltece os corações orgulhosos? Não quero ter de ouvir minha voz soar nenhuma vez. Não quero erguer as notas, atingir os tons, não. Dentro da minha caixinha o único som a ser ouvido deve ser o silêncio, nada mais que o silêncio. Que seja ele o disco mais tocado e que nunca haja pausa em sua execução. Eu não quero as cores. Nada mais justo que não deixar que entre luz. A luz cega. Também as cores. Não quero um mundo colorido porque as cores mentem. O céu nem o mar são azuis. Se esperar anoitecer, nem o céu nem o mar são azuis. Há sim muito que existe no claro que não existe no escuro: as cores. As cores frustram. A escuridão é a realidade porque é independente. A escuridão é livre, a claridade necessita que haja escuridão para existir. A escuridão é o estado básico. É como começou e como vai terminar, ainda que tantos intervalos de luz existam. Eu quero o silêncio e a escuridão. Não quero ninguém. A única pessoa dentro da caixinha que deve existir sou eu, sem direito a reflexos. Meu próprio retrato me causa repulsa. Eu não quero ser um deles, eu quero fugir da identidade de todos, da minha própria. Sou mesmo o que sou? Já não sei mais. Tenho estado tão sôfrego. Não quero ter movimentos, nem ter de me tocar. Causa-me tamanha aversão. Prefiro me manter o mais longe de mim possível. Eu quero sentir os gostos da matéria do princípio, tentar resgatar minhas origens perdidas há tanto tempo. Tentar começar pelo fim, e fazer bom começo. Estou ávido por ser; como ser, quem? Quem? Ser como? Quero provar dos não-saberes de todos que agora tem ar em seus pulmões. Eu quero provar do fim. Eu não sei para onde foram todos. Tudo o que vejo são marionetes. Não quero as linhas, nem o controle, nem ser controlado. Eu sou repulsivo a ambos os ânimos. Quero o princípio. O princípio começa onde acabam os finais. Que toque o silêncio e seja vista a escuridão.
E que assim seja.
Eu quero viver. Que o princípio seja o fim.

Um comentário:

prii santos . disse...

a luz cega - o cego nada enxerga -só imagina - então na verdade - é como estar no escuro - não enxergamos nada - nunca - sempre - vivendo de olhos fechados - dançando conforme a musica - conforme o vento - sem direção certa - sem parar - sem conseguir um tempo pra respirar - a musica - o silencio - ambos te arrastam - te puxam - te empurram - pro nada - tudo - em vão - mas no coração - minha caixinha escondida - eu guardo alguém - tu guardas tbm - e o desritmo - a batida acelerada - inconstante - entrega - se entrega - me entrega - a você .

okay, me empolguei . não me mata, amigo . te amo !