Thomaz Campacci
14 de agosto de 2009
Ensaio sobre as faces do ser na identidade
Ainda que os tantos outros de mim fossem meus como eu sou deles, não haveria coexistência. Cada outro é ainda mais subjetivo e egoísta, nunca soube dividir o palco. O controle escapa pelos dedos quando perambulo por eles todos pra tentar não sê-los. Nos pontos onde não falham as tentativas é que posso me ver nu; sem roupa, sem pele, sem capa; sem mim; sem graça. Pois não consigo viver sem vestimenta em tão baixas temperaturas com agravante permanência. Não há ainda artigo que obrigue a qualquer um ser o mesmo todo o tempo. Não tratemos por patologia a liberdade de nossos alteregos, pois a loucura escondida em dado momento virá à tona cedo ou tarde, no mesmo corpo. Decreto por livre meus fantasmas antes para que não me pressionem depois. Não há como esconder de si algo que lhe pertence. A mentira existe pra ser dita, não para tornar-se verdade. Portanto, não se deve impedir que nossos outros entrem e saiam de cena, o tempo todo, quando quiserem. Impossibilitar seus personagens de agir é admitir ser incapaz, covarde. É confessar dia após dia, passo-a-passo, que se mata — e que se orgulha disto.
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Um comentário:
somos abusados por sermos plurais. nos dois sentidos da ambiguidade.
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