23 de agosto de 2009

O surto

Eu fecho os olhos para abrir portas para dentro de mim
os caminhos escuros logo recebem claridade suficiente
para que se possa andar sobre eles sem grandes vacilos
tantas portas se abrem e se fecham enquanto caminho
há tantos corpos sem semblantes e tantos semblantes sem expressões
existem tantos significados que não significam
ou que tanto significaram que já agora são tão crus
as luzes se acendem e se apagam porque há ainda pouco
esqueceram se são melhores acesas ou apagadas
alguns vultos correm depressa fugindo ao meu tato
os gritos ensurdecedores vão e voltam
driblam meus ouvidos na tentativa de se manterem longe
porque não sabem que tão perto estão porque são parte
meu paladar se esquece de tudo que já sentiu
gostos agora são gestos mal feitos por corpos sem movimentos
mesmo que todos esses corpos sejam outros de mim
tudo gira num inconsciente inconsciente da sua inconsciência
o desconhecido clama por alguém e a resposta quem dá sou eu
há vários quartos com portas fechadas que eu tento abrir
e muitas passagens livres que o destino é nenhum outro senão
quartos de portas fechadas que eu já tentara em abrir em vão
os rostos que me olham quando sorriem me machucam
e quando choram fazem-me rir loucamente como não deveria
eu busco por entre as fendas imagens que me respondam
eu busco dentro de mim meu eu e acabo me desencontrando cada vez que me encontro

estou à beira da loucura.


Thomaz Campacci

Um comentário:

Henrique Rochelle disse...

eu tentei sair, mas as portas estavam todas fechadas.
eu tentei me matar, mas as janelas nunca tinham a altura certa.
a fresta era imaginação
a fechadura cumpria funções específicas e nao metafóricas.
eu me fechei pra dentro de mim
pra nao escapar pra fora do quarto
porque chovia e eu estava sozinho.
porque chovia e eu tinha medo